Dia do ESCRITOR - 25 de Julho

Dia do ESCRITOR - 25 de Julho


Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro


Uma saudação amiga aos colegas da Escrita - Carlos Leite Ribeiro

A escrita foi inventada diversas vezes, em regiões diferentes: em toda a parte, e quando existem informações seguras sobre as suas origens, vemo-la desenvolver-se a partir da pictografia; em parte alguma se pode seguir um desenvolvimento completo partindo da pictografia para a ideografia e desta para o sistema alfabético. Este parece ter sido criado uma única vez.
Os sistemas do Egipto e da Mesopotâmia, com predominância da ideografia desapareceram, assim como o sistema Egeu, que parece Ter sido cultivado durante bastante tempo num estado silábico, modalidade de fonografismo. O sistema chinês, que é simultaneamente ideográfico e silabofonográfico, subsistiu apenas no seu domínio, enquanto o sistema fonográfico alfabético, sob as formas semíticas, indianas, e sobretudo europeias, se espalhavam cada vez mais.
Será na Fenícia que surge o primeiro alfabeto. Os fenícios, navegadores e comerciantes de cidades com uma administração municipal desenvolvida, que comerciavam com todos os povos do Mediterrâneo, deviam Ter feito um uso intenso da escrita por necessidades práticas. Em Lataquié, na Síria, foram encontrados tijolos gravados contendo sinais que se repetiam em números de 22. Era o primeiro alfabeto.
Esta forma de escrita foi adoptada pelos povos vizinhos, nomeadamente pelos gregos e depois pelos latinos. O estabelecimento de um alfabeto representa a última fase na organização da grafia, de acordo com a análise das palavras em entidades fónicas sucessivas, sendo estas - em qualquer língua - menos numerosas do que as combinações em sílabas de estruturas diversas.
Resta acrescentar que a maneira como cada povo codificou os sons da sua língua para os reproduzir, foi muito variado, como ainda hoje se pode constatar.
No conjunto, com bastantes acidentes, nomeadamente o desaparecimento de sistemas que não puderam aperfeiçoar-se, a escrita, que apenas apareceu em estádios relativamente avançados da civilização, seguiu os progressos das civilizações, quer no sistema, quer no emprego.
O papel social da escrita variou igualmente no decurso da evolução de uma civilização sempre mais complexa. Os primeiros empregos da escrita foram pobres, imediatos e práticos; é preciso naturalmente compreender, na prática, os empregos mágicos cuja necessidade já não sentimos. Assim, o amuleto ao lado da mensagem, as contas comerciais, o contrato, a inscrição tumular.
O emprego estava também limitado pelo fato de poucos povos terem escrita e de nesses povos poucas pessoas se servirem dela. Eram geralmente trabalhadores intelectuais ao serviço de personagens poderosas, algumas vezes essas mesmas personagens.
Com o tempo, o instrumento-escrita substituiu cada vez mais o instrumento-memória, e as genealogias, os textos religiosos foram passados a escrito. O copista, um novo artesão, foi um instrumento importante do progresso.
Então a massa dos documentos constituiu uma materialização da memória colectiva nas mãos de um maior número de pessoas que sentiam mais fortes necessidades de estudo e de instrução.
Os documentos escritos foram matéria de estudo, facilitaram e provocaram a reflexão e a instrução. Podem contar-se entre eles as placas de argila cozida, cobertas com caracteres cuneiformes de povos assírios, persas e medos, datando de quatro a três mil anos antes de Cristo. Estes podiam, ainda, apresentar-se sob a forma de leques confeccionados em folhas de palmeira - método praticado na Índia e no Ceilão.
No entanto, o momento essencial na história de todos os povos civilizados foi aquele em que se criou o livro. O primeiro exemplar impresso apareceu na China a 11 de Maio do ano de 868. Tratar-se da tradução para chinês da obra indiana de Sutra do Diamante e o seu impressor foi o mestre Van Chi. O livro apresenta-se sob a forma de um rolo de papel e tem gravada a imagem do Buda. O primeiro texto ocidental teria de esperar alguns anos mais. Assim só em 1455 sai da prensa de Johann Gutenberg a <> de Mazarino.
O texto só adquiri todo o seu poder quando se pode multiplicar e já não é o exemplar único fechado nos arquivos e no santuário.
A imprensa nasceu na Holanda com caracteres móveis, devido a Coster mas foi Gutenberg quem generalizou o seu uso. A imprensa desempenhou um notável papel na difusão das ideias e na cultura, que com ela ganhou progressivamente um carácter universal. Depois do seu nascimento, não houve mais necessidade dos <> (a raridade e carestia dos livros obrigava a prendê-los com cadeados às bancas de estudo). A imprensa facilitou o trabalho intelectual, difundiu o gosto pela leitura e permitiu a multiplicação rápida dos originais. Com a imprensa generalizou-se o <> que havia tido, como antecessor, na Antiguidade Clássica, o papiro.
O jornal, o último dos empregos da escrita, trouxe a todos uma massa de informações, as quais, sendo outrora orais, deviam ser trazidas às assembleias e apenas circulavam ao acaso dos encontros.
Chegamos ao ponto de, na civilização sempre cada vez mais mecanizada e complicada, ser normal todo o rapaz e rapariga, depois de aprender a andar e a falar, aprender a ler e a escrever.
Mas as invenções modernas, que o uso da escrita pelos sábios tanto contribuiu para criar e desenvolver, vem fazer concorrência à velha invenção da escrita. Fazem-no nos seus empregos mais frequentes. Entre eles, as necessidades de comunicação momentâneas (mensagens e actos de publicidade) satisfazem-se cada vez mais, por um lado, pelo telefone, por outro lado, pela rádio e televisão. Igualmente a rádio, como o cinema, satisfaz as necessidades que ultimamente se manifestaram no emprego da escrita: as da informação, compreendendo nelas uma parte do ensino e da distracção. Os empregos relativamente mais restritos não estão ainda ameaçados. A enumeração mostra-os variados: o livro, sob todas as formas, desde o livro de missa ao romance, do manual escolar ao tratado científico; o documento único, mas destinado à conservação, desde agendas de bolso ou das contas ao contrato ou ao diploma, e, além disso, tudo o que a reflexão materializa, desde o trabalho escolar ao manuscrito do escritor ou do sábio.
A escrita, pouco a pouco, tornou-se prática; lentamente foi posta à disposição de uma parte maior da humanidade. Função do progresso geral, é para ela um instrumento essencial.
Classificação da escrita:
A escrita pode ser directa ou indirecta, conforme o seu tipo de formação.
As escritas directas ou grafismos são aquelas que provêm directamente do homem, através dos gestos.
As escritas indirectas ou impressões são aquelas produzidas através de processos artificiais.
Para melhor entendimento da classificação da escrita, reproduzimos o quadro esquemático a seguir.

ESCRITA - DIRETA - HOMEM - GRAFISMO ESCRITA - INDIRETA - MÁQUINA - IMPRESSÃO
ESCRITA DIRETA
HISTÓRICO:


Os desenhos pré-históricos constituíram os primeiros registros deixados pelo homem.
A escrita através de letras foi criada pelos egípcios por volta de 5000 a C., com os hieróglifos, termo que significa "escrita sagrada".
Os primeiros hieróglifos possuíam escritas pictóricas, que eram desenhos de imagens, e com a sua simplificação surgiu a escrita hierática, posteriormente a demótica, contudo sem considerar o elemento fonético.
O primeiro alfabeto foi criado pelos fenícios, originando a escrita fonética, que foi aperfeiçoada pelos gregos e romanos, dando origem ao alfabeto que utilizamos actualmente.
TIPOS DE GRAFISMOS:

Quanto à forma, os grafismos podem apresentar-se nas seguintes configurações:
- assinaturas; - rubricas; - escritas em cursivo; - escritas em letras de forma; - pictografias; - criptografias.
ELEMENTOS TÉCNICOS DO GRAFISMO:
Os elementos técnicos do grafismo classificam-se em dois grupos, um derivado das características da forma do registro gráfico e outro decorrente do gesto de escrever.
Os elementos derivados do estudo da forma do registro gráfico são os genéricos e representam a morfologia do grafismo. São eles:
- inclinação axial; - espaçamentos; - calibre; - comportamentos em relação às linhas de base e de pauta; - relação de proporcionalidade gráfica; - valores angulares e curvilíneos.
Os elementos derivados do estudo do gesto são decorrentes do efeito dinâmico das interacções das forças aplicadas no ato de escrever (progressão + pressão), e são denominados genéticos.
Antes de apresentarmos o rol desses elementos devemos nos direccionar ao estudo da Física, no capítulo da Dinâmica, para melhor compreensão do processo de formação do grafismo.
Sendo a escrita um movimento uniformemente variado, gerando pela aplicação de forças, com intensidades variadas a até mesmo nulas, é fundamental o conhecimento das Leis de Newton para o bom entendimento do seu desenvolvimento. Nesse sentido cabe destacar o seguinte:
Força - é um agente físico de grandeza vectorial (intensidade, direcção e sentido) e capaz de iniciar movimentos, alterar a velocidade dos corpos e produzir deformações.
Princípio da inércia ou Lei de Newton - quando a resultante das forças agentes num corpo é nula, sua velocidade vectorial permanece constante.
Princípio fundamental ou 2ª Lei de Newton - a resultante das forças que agem num ponto material comunica-lhe uma aceleração na mesma direcção e sentido. A intensidade dessa aceleração é directamente proporcional à intensidade da resultante que a provoca.
Princípio da ação e reacção ou 3ª Lei de Newton - toda vez que um corpo "A" aplica uma força a um corpo "B", recebe deste uma força de mesma intensidade, mesma direcção e sentido contrário.
Através desses postulados temos a confirmação da importância do estudo da Dinâmica para a Grafologia, pois todos os fundamentos desses princípios estão presentes nos grafismos, tais como os inícios dos movimentos, as alterações de velocidades, o atrito e as deformações.
As forças e os movimentos produzidos pelo gesto gráfico podem ser avaliados através de particularidades do traçado, tais como mudanças de direcções, inversões dos sentidos, tipos de sulcagens, níveis de entintamento e paradas de pena.
Essas particularidades são devidamente estudadas através dos seguintes elementos genéticos:
- Dinâmica (pressão; progressão) - Trajectória (ataque; desenvolvimento; remate; mínimos gráficos; momentos gráficos)
Esses elementos estão relacionados às forças que produzem o grafismo, permitindo ao perito estudar os movimentos do gesto gráfico para identificar a sua origem (escritor).
Essa classificação diverge daquela estabelecida no passado pelos tradicionalistas, apesar de envolver praticamente os mesmos elementos.
Os tratadistas do passado não analisaram a formação do grafismo pela Física, o que determinou uma classificação de elementos sem respaldo científico, com evidentes equívocos.
Confundiram progressão com velocidade e tentaram avaliar o movimento de forma subjectiva, através de elementos inexistentes, tais como o ritmo e a qualidade do traçado.
Consideraram as forças como elementos subjectivos, talvez porque não tenham conseguido medi-las, desconhecendo que elas são grandezas vectoriais com intensidades, direcções e sentidos.
A classificação ora proposta visa corrigir essas distorções, sistematizando de forma lógica e científica os elementos técnicos do grafismo.
PRINCÍPIOS E LEIS DO GRAFISMO

Princípio fundamental
A estrutura básica em que se assenta o exercício da perícia grafoscópica decorre do princípio fundamental do individualismo gráfico.
A evidencia física desse fato, de incontestável veracidade teórica e prática, permitiu à perícia de documentos a sua aceitação em todos os tribunais do mundo, como prova científica da mais alta relevância.
A gesticulação que produz a escrita origina-se do cérebro e se manifesta através dos órgãos musculares, redundando em sinais sensivelmente individualizadores, personalíssimos e inconfundíveis.
A prática tem demonstrado, incansavelmente, a circunstância eventual de dois punhos diferentes produzirem escritas semelhantes, ou até mesmo muito parecidas, sem, entretanto, se confundirem. A análise pericial, levada a efeito com justeza e competência, encarrega-se de distinguir; com absoluta segurança, as origens desta e daquela escrita. Se assim não fosse, a Grafoscopia estaria desacreditada.
No campo das falsificações é onde o perito exerce a sua mais alta capacidade profissional, cabendo-lhe a difícil tarefa de fornecer subsídios técnico-científicos com absoluta precisão, apontando a existência da fraude.
Sendo a escrita constituída de alentado número de elementos genéricos, aliado a particularidades grafocinéticas, a que se deve acrescentar a possibilidade da existência de "mínimos" gráficos inconfundíveis, torna-se fácil compreender o elevado grau de característicos unipessoais competentes de uma escrita, permitindo sua identificação firme e segura.
Solange Pellat, no seu livro Les lois de l´écriture, formulou quatro leis essenciais, de natureza prática, que deram à Grafoscopia um respaldo científico de incontestável valor, pela sua extraordinária objectividade.
Por isso mesmo essas leis se aplicam indistintamente a qualquer alfabeto, constituindo um verdadeiro "princípio inicial", assim enunciado:
"As leis da escrita são independentes dos alfabetos empregados".
Tal circunstância decorre, evidentemente, do princípio fundamental do individualismo gráfico, implícito em todas as manifestações do insigne mestre Solange Pellat, no seu valioso livro.
LEIS DE SOLANGE PELLAT
São as seguintes:
1a. Lei da escrita
"O gesto gráfico está sob a influência imediata do cérebro. Sua forma não é modificada pelo órgão escritor se este funciona normalmente e se encontra suficientemente adaptado à sua função."
O enunciado desta lei deixa claro que sendo o cérebro o gerador do gesto gráfico, desde que o mecanismo muscular esteja convenientemente adaptado à sua função, ele produzirá escrita sempre com as mesmíssimas peculiaridades.
Assim sendo, aquele que escreve, por exemplo, com a mão direita, se passar a fazê-lo com a esquerda, após sucessivos treinamentos apresentará escrita com idênticas características grafocinéticas.
O mesmo ocorrerá com escritas produzidas com a boca, ou com os pés, conforme é farta a literatura a respeito, provada pela casuística pericial. A circunstância de os loucos não escreverem, voltando a fazê-lo nos eventuais momentos de lucidez, é a maior evidência da premissa da 1a. lei de Solange Pellat.
2a Lei da escrita
"Quando se escreve, o 'eu' está em ação, mas o sentimento quase inconsciente de que o 'eu' age passa por alternativas contínuas de intensidade e de enfraquecimento. Ele está no seu máximo de intensidade onde existe um esforço a fazer, isto é, nos inícios, e no seu mínimo de intensidade onde o movimento escritural é secundado pelo impulso adquirido, isto é, nas extremidades."
Esta lei se aplica precisamente aos casos de anonimografia, onde o esforço inicial dos disfarces é muito mais acentuado, perdendo sua intensidade à medida que a escrita vai progredindo. Incidindo no automatismo gráfico, o escritor aproxima-se de sua escrita habitual, deixando elementos que poderão incriminá-lo. O mesmo pode ocorrer nos casos de falsificação, demonstrando a conveniência de um exame mais atento nos finais dos lançamentos, onde os maneirismos gráficos ocorrerão com mais frequência.
3a Lei da escrita
"Não se pode modificar voluntariamente em um dado momento sua escrita natural senão introduzindo no seu traçado a própria marca do esforço que foi feito para obter a modificação."
Na prática essa lei tem aplicação nos casos de autofalsificação, podendo ocorrer em outras simulações, obviamente. Em qualquer deles o simulador se trairá, através de paradas súbitas, desvios, quebra de direcção ou interrupções, cabendo ao técnico interpretar convenientemente essas particularidades.
4a Lei da escrita
"O escritor que age em circunstâncias em que o ato de escrever é particularmente difícil, traça instintivamente ou as formas de letras que lhe são mais costumeiras, ou as formas de letras mais simples, de um esquema fácil de ser construído."
Sempre que se torna penoso escrever, em circunstâncias desfavoráveis, prevalecerá a "lei do mínimo esforço", resultando em simplificações, abreviaturas, letras de forma ou esquemas pouco usuais, buscando abreviar os lançamentos.
Na prática são comuns casos dessa natureza em escritas produzidas em veículos em movimento, em suportes inadequados, em posições desfavoráveis, por pessoas enfermas ou em situações que demandem extrema urgência, de tudo resultando excelente cabedal gráfico para precisas conclusões periciais.
VARIAÇÕES DA ESCRITA:
As demências, dependendo do seu tipo e intensidade, provocam alterações formais intensas, não raro permanentes.
Pellat asseverou que, quando um demente manifesta alegria ou sentimento de grandeza. A escrita, no tocante à sua forma, pode sofrer modificações por três espécies de causas: involuntárias; voluntárias e patológicas.
As causas involuntárias se distribuem por dois grupos: os normais e os acidentais. As modificações formais decorrentes das causas involuntárias normais são as que dizem respeito à própria evolução e posterior evolução do gesto gráfico.
A escrita, do inicio do aprendizado, até sua plena efectivação, formalmente, passa por vários patamares, como o da escrita canhestra, que constitui mais uma cópia de modelos do que propriamente escrita; o da escrita escolar, quando o escritor já abandona os modelos e escreve, ainda com relativa morosidade, caligrafando as formas e, finalmente, o da automatização, quando o escritor redige com grande dinamismo, emprestando ao gesto gráfico sua própria individualidade.
A partir desta fase, que constitui o apogeu da escrita, com a idade avançada, perde-se a tonicidade somática do órgão escritor e com a maior lentidão dos reflexos, a escrita involuí, aproximando-se, às vezes, da primária. É a escrita senil.
A escrita pode ser alterada em função de causas que independem da vontade do escritor. Essas causas são de duas naturezas: as intrínsecas e as extrínsecas.
Entre as causas intrínsecas, as emoções, alterando o comportamento psicossomático, motivam modificações mais ou menos profundas no grafismo.
A euforia, com a aceleração da circulação e consequente maior irrigação no cérebro, aumenta, via de regra, a velocidade do lançamento.
Em contraposição, a depressão, relaxando o sistema muscular e cerebral, às vezes, dependendo da pessoa, determina redução no dinamismo gráfico.
O pavor, aumentando a tensão nervosa, resulta numa escrita pesada, de grande extensão, podendo ser desprezadas as ligações entre os caracteres.
A atenção no ato de escrever pode ter maior ou menor intensidade e influi no gesto gráfico. Quando se presta muita atenção no ato de escrever, a escrita tem velocidade menor do que a habitual, as formas são bem feitas e lançadas com firmeza. Diminuindo a atenção, a escrita já se torna mais rápida, como se o escritor tivesse pressa em terminar o texto e, com isso, as formas ficam seriamente prejudicadas, chegando a ponto do lançamento se tornar ilegível.
A ira, com forte derramamento de adrenalina na corrente sanguínea, altera as condições dos sistemas somáticos e cerebrais. Em razão disso, a escrita é feita com traços fortes, com grande pressão do punho, são amplos e as ligações podem desaparecer.
O estado de embriaguez, modificando o comportamento físico e mental do escritor, provoca alterações mais ou menos graves na forma gráfica. Nos casos mais agudos, o escritor sequer tem possibilidade de escrever.
As causas extrínsecas são as alheias ao sistema produtor da escrita cerebral e muscular.
São inúmeras as causas desse tipo, razão pela qual serão citadas as mais frequentes:
Mau estado do instrumento escrevente, obrigando o escritor a fazer grande esforço para escrever; · Posição incómoda no ato de escrever. Há pessoas que não sabem escrever em pé; · Suporte inadequado, escritas feitas em superfícies ásperas ou irregulares, como paredes, ou em suporte de tamanho reduzido, que obriga a aglutinação dos lançamentos; · Iluminação inadequada, obrigando o escritor a um esforço visual muito grande; · O calor, que gera um relaxamento da musculatura; · O frio, que provoca a perda da elasticidade do sistema somático.
As causas voluntárias são as modificações que propositadamente o autor introduz na sua escrita habitual, seja quando disfarça, seja quando imita a escrita de terceiros.
As causas patológicas acarretam deformações na estrutura da escrita e podem ser passageiras ou irreversíveis, dependendo da natureza e da intensidade do morbo.
Roger de Fursac , distingue dois tipos de alterações nas escritas em consequência de moléstias nervosas: as da função motriz, isto é, da mecânica muscular e as da função psíquica, ou seja, do cérebro.
No primeiro caso se encontram as modificações provocadas pela Coreia, cujos movimentos deformam a grafia, e dependendo do grau de intensidade, pode até ocorrer a impossibilidade de escrever, a agrafia.
A ataxia altera a função coordenadora e afecta o domínio do movimento. A escrita perde o ritmo, apresenta caracteres de proporções desmedidas. Surgem tremores horizontais e verticais.
O tremor vertical é próprio do alcoolismo crónico. O tremor horizontal é típico das escritas envelhecidas e da doença conhecida como Mal de Parkinson, que causa a diminuição do calibre das letras, na tentativa do paciente evitar os tremores.
As alterações de ordem psíquica são o esquecimento das imagens gráficas, a regressão da qualidade do grafismo e a morfologia extravagante.
O esquecimento dos moldes gráficos ocorre nos casos de demência e de epilepsia.
Na regressão a escrita se desproporciona, se despersonaliza e volta aos moldes primários colegiais.
Sob a influência da excitação cerebral, a escrita, em certas doenças mentais, pode ser rápida e dinâmica. Na depressão, ao contrario, lenta e arrastada.
Segundo os grafopatologistas as doenças que afectam o estômago, o fígado, o sistema gastrointestinal, o coração e o útero têm reflexos na forma da escrita.
Essas alterações, todavia, na maioria dos casos, são passageiras, perduram apenas durante a enfermidade. Desaparecidas as causas, cessam os efeitos. Estas manifestações têm uma característica especial, inerente à enfermidade, que não provocam nos seus grafismos as mesmas circunstancias que podem ocorrer nas das pessoas normais.
ESCRITA INDIRETA:
Em virtude de serem produtos de processos artificiais, as escritas indirectas não podem ter uma classificação definitiva, pois são constantes os desenvolvimentos de novas tecnologias, muitas com processos inéditos, como por exemplo as recentes técnicas que utilizam o magnetismo, a electricidade e a química, cujos exemplos de maior destaque são as impressões matriciais e a laser, as cópias electrostáticas (xerox e fax) e as escritas em vídeos.
Utilizando-se das mais avançadas tecnologias da Química e da Física, o homem vem criando técnicas revolucionárias nas Artes gráficas, e, com o avanço da Informática, temos acompanhado o precoce envelhecimento das máquinas de dactilografia.
Apesar da dificuldade em se classificar as escritas indirectas, pelos motivos já expostos, podemos destacar os três grupos principais, baseados nos processos mais utilizados actualmente na elaboração de documentos, ou seja:
- Mecanografias (processo mecânico); - Reprografias (processo electrostático);; - Fotografias (processo químico).
As principais características dos processos e impressões resultantes das escritas indirectas são as seguintes:
MECANOGRAFIAS
a) Datilografia - processo mecânico realizado através de máquinas de escrever, que possuem leques de hastes metálicas ou margaridas plásticas com os tipos em relevo.
A impressão é realizada mediante a pressão dos tipos sobre uma fita entintada (nylon ou polietileno) e o suporte.
As máquinas são operadas manualmente, podendo ser accionadas através do esforço do próprio dactilógrafo (máquinas manuais) ou de motor eléctrico (máquinas eléctricas).
As impressões resultantes do processo dactilográfico apresentam as seguintes características:
- tipos entintados e/ ou sulcados; - espaçamentos próprios entre os tipos ee linhas; - estilo, volume e proporção das letras;; - peso da impressão nas extremidades doss tipos; - relação de alinhamento entre as letrass no sentido horizontal e também no vertical; - defeitos constituídos por mutilações oou arranhaduras do tipo em decorrência dos acidentes naturais e uso da máquina.
As máquinas de escrever são fabricados desde 1873, quando surgiu no mercado o primeiro modelo da Remington, e ainda continuam a ser produzidas por vários fabricantes, em diversas partes do mundo.
Tratando-se de um processo simples e barato, a dactilografia é um dos meios de escrita indirecta mais difundidos no mundo, e o seu estudo é fundamental para os especialistas da Grafoscopia.
Através dos exames das características das impressões, e até mesmo de particularidades do texto, pode-se determinar com precisão a máquina ou mesmo o dactilógrafo de um documento, bem como outros dados de sua origem.
b) Impressão matricial - é o processo através do qual os caracteres são produzidos por sequências ordenadas (vertical e horizontal) de pontos impressos por impactos de agulhas sobre uma fita entintada e o suporte. Esse processo foi introduzindo no mercado em 1968 pela Seiko Epson com a fabricação da primeira impressora matricial.
O modo de impressão consiste na movimentação bidirecional da cabeça-suporte das agulhas impressoras (9 ou 24), mediante o comando de computador.
As impressoras possuem fontes residentes com diversas configurações e podem imprimir em formulários contínuos ou folhas soltas. As impressões podem ocorrer por jato de tinta ou através de fita entintada, em variadas velocidades e resoluções gráficas.
A circunstância de existirem fontes personalizadas produzidas através de software exclusivos pode gerar dificuldades nos exames grafoscópicos, pois tal ocorrência é um grande obstáculo na identificação da origem da impressão.
c) Tipografia - é o processo que utiliza como matriz fios de latão e clichés resultantes da união de vários tipos (monotype) ou fundidos numa só linha metálica (linotype).
O processo utiliza tinta pastosa de alta viscosidade para imprimir, sendo cada caracteres representado por um tipo metálico, geralmente constituído por liga de chumbo, antimónio e estanho.
Tal como no processo dactilográfico, as impressões apresentam características próprias, passíveis de ser examinadas para a determinação da origem.
A tipografia é um processo muito utilizado nos impressos de baixa tiragem, como os cartões, notas fiscais etc.
d) Flexografia - é muito utilizado em impressões de embalagens e de borracha e a tinta utilizada é de baixa viscosidade e rápida secagem.
Esse processo é muito utilizado em impressões de embalagens e de carimbos que são costumeiramente examinados pelos especialistas da Grafoscopia.
e) Letter-set - é a impressão tipográfica indirecta, rotativa. Também é conhecida como off-set seco, pois a impressão da chapa é transferida para o cauchu, que imprime sobre o papel, sendo, pois, indirecta.
A tinta é pura, não se usando água no processo off-set convencional.
É um sistema que apresenta tintagem intensa e uniforme de impressão, nem sempre obtidas no off-set.
f) Litografia - é o processo da planografia que emprega como forma de impressão uma pedra à base de carbonato de cálcio, e é baseado na repulsão entre a água e os corpos gordurosos.
Esse sistema, artesanal, não é utilizado na indústria papeleira, pois a produção é pequena e incomparavelmente inferior ao processo off-set que utiliza o mesmo princípio, porém com chapas metálicas em vez de pedras.
g) Off-set - processo resultante da evolução da litografia, também baseado no princípio da repulsão entre as tintas graxas e a água, porém com três cilindros, o da chapa, o do cauchu e o de impressões.
O off-set é o processo comummente utilizado na impressão de grandes tiragens, como os livros, revistas, impressos de propaganda e cartazes.

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal